Uma das mais importantes áreas de lazer de Fortaleza, a  Avenida  Beira-Mar abriga diversas manifestações artísticas. Nessa arena a céu aberto, há lugar para muita gente mostrar seu talento – ou até, às vezes, a falta dele. Mas é justamente esse ecletismo que torna o espaço tão democrático. Sempre cabe mais um, embora a mobilidade esteja comprometida com a invasão de ambulantes, vendendo, principalmente, produtos “made in China”. Tem palhaço, cantadores, sanfoneiros, humoristas, malabares, estátuas vivas…

Fabrício

Em meio a tantos, é possível ver um ou outro se destacando. O jovem Fabrício fica imóvel, sentado “no ar”,  apenas com uma das pernas no chão; a família Nascimento, chegada há oito meses do Rio Grande do Norte,  toca e canta nosso autêntico forró pé de serra. Já Luciano exibe sua habilidade com esculturas de palito de fósforo, enquanto Mário pinta miniquadros de paisagens cearenses.

Família Nascimento

Foram eles os selecionados durante um passeio, numa noite de sexta-feira, com o propósito de mostrar artistas que ocupam o calçadão. A maior surpresa foi Maria Vitória. Aos 4 anos, mesmo sem saber ler e escrever, a menina canta estrofes de Asa Branca, acompanhando, a mãe, Neide, e os irmãos, Valbeane e Valber,  no grupo “Família pé de serra”. Conheça, a seguir, um pouco da história de cada um desses personagens da cena cotidiana do mais conhecido cartão-postal da capital cearense.

O jovem do banco invisível

Parece até que ele está sentado em um banco invisível. E assim consegue atrair os olhares de quem passa pelo calçadão. Muitos param para tentar entender como consegue esse feito. A performance é realmente fantástica. Mas para o protagonista desta história é a forma honesta e divertida de apurar o ganha-pão. Apesar de jovem, Francisco Fabrício Silva de Oliveira, 20 anos, já experimentou alguns ofícios ligados, de certa forma, à arte. Pintou quadros e trabalhou com serigrafia.

Há três meses, incentivado por um amigo, comprou tinta prateada, vestimentas da mesma cor, e começou a pesquisar na internet sobre estátuas vivas, aquelas pessoas que fazem performances artísticas em locais públicos, imitando uma estátua com movimentos estáticos.

A posição que mais lhe chamou atenção foi ficar como se estivesse sentado num banco e com uma perna fixada no chão e outra cruzada. Embora não tivesse explicação sobre qual acessório seria usado pra isso, descobriu por conta própria. Não revela para o público o que lhe dá sustentação, porém até já ensinou para um colega.

Na Beira-mar, costuma se apresentar próximo à estação de Trem da Alegria. No período das férias, fica diariamente, das 18h às 22h. Agora, apenas de sexta a domingo. É possível ainda vê-lo, nas tardes de quarta a sexta-feira, na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, bairro onde também reside com a mãe e o padrasto. Também aceita convites para apresentações em escolas e eventos. Em breve, pretende reunir mais dois colegas para se apresentarem nas romarias de São Francisco de Canindé, em outubro, e de Finados, em Juazeiro do Norte. Dessa vez, representarão imagens religiosas.

“Parece ser uma moleza imitar estátua, muita gente diz que quero ganhar dinheiro fácil. Mas não tem nada fácil. Ficar parado feito poste cansa pra dedéu”, afirma.  As crianças se divertem ao assisti-lo, algumas até passam a mão para ver se não há mesmo um “banco invisível”. Mas são os adultos quem mais se impressionam, segundo o artista: “Eles querem entender como consigo ”